
A polêmica vivida pelo padre Fábio de Melo em uma cafeteria de Joinville, no Norte de Santa Catarina, ganhou um novo desdobramento nesta semana. Após denunciar um erro de preço e uma atitude grosseira por parte do gerente de uma loja em um shopping da cidade, o religioso passou a ser alvo de críticas nas redes sociais — o que o levou a fazer um desabafo comovente: “Estou a um passo de desistir”.
Em publicação nas redes sociais, o padre lamentou o nível de agressividade e julgamento gratuito por parte de internautas. “As pessoas querem odiar. A qualquer custo, querem odiar. Por qualquer motivo”, escreveu. Para ele, os ataques ultrapassaram o episódio da cafeteria e se tornaram um instrumento de perseguição ideológica e pessoal.
Fábio de Melo também comentou sobre o efeito corrosivo das redes sociais, que, segundo ele, amplificam a crueldade humana: “É da natureza humana a crueldade, mas as redes sociais estimulam a coragem de dizer o que não se diria pessoalmente.”
O religioso reforçou que a questão política está por trás de boa parte das críticas: “Os ataques são orquestrados pelos que não ficaram satisfeitos em não nos ter nos palanques de suas predileções. Eu sempre escolhi não estar em nenhum deles. Por isso sou atacado pelos dois lados.”
O caso que deu início à polêmica aconteceu no dia 10 de maio, quando o padre relatou que viu um preço anunciado na vitrine para dois potes de doce de leite, mas foi cobrado um valor maior no caixa. Ao questionar o erro, ouviu da funcionária que o preço estava incorreto. O gerente, segundo o padre, interveio de maneira ríspida e afirmou que prevalecia o valor do sistema. O episódio gerou repercussão nacional e levou à demissão do gerente.
Diante do desgaste emocional causado pela onda de ataques, Fábio de Melo finalizou seu desabafo com um alerta: “Você está sob a mira da mais assertiva armadilha que o Diabo criou: o mundo virtual.”
Leia a carta na íntegra:
“As pessoas querem odiar. A qualquer custo, querem odiar. Por qualquer motivo. Elas precisam eleger um foco para a manifestação de seu lados sombrios. Querem extravasar o fel que circula pelas veias, desaguar nos outros as enchentes que naufragam as embarcações de seus sonhos. Quanto maior a insatisfação existencial, maior será a urgência de destruir os outros.
É da natureza humana a crueldade, mas as redes sociais estimulam a coragem de dizer o que não se diria pessoalmente. A polarização política está por trás de tudo. Sempre esteve.
E ninguém está realmente preocupado com a questão que atualmente foi levantada para o estímulo do ódio.
Os ataques são orquestrados pelos que não ficaram satisfeitos em não nos ter nos palanques de suas predileções. Eu sempre escolhi em não estar em nenhum deles. Por isso sou atacado pelos dois lados. Ninguém viu o meu voto, mais juram que sabem qual é o meu posicionamento político.
O ódio virtual se manifesta da pior forma. Mentindo, caluniando, blasfemando contra o sagrado de nossas escolhas, achincalhando as pessoas que amamos, nossos familiares e amigos. O principal instrumento do ódio é a palavra, a pior de todas as armas. Ela fere, adoece, pesa tanto que prostra a alma.
Ainda que o post seja uma homenagem à minha mãe, lá estão os comentários desqualificando a minha vida, ferindo a minha honra, atentando contra a minha verdade.
É tão desproporcional a medida que se estabelece entre o que “realmente aconteceu e o ataque” que nós chegamos à conclusão de que as pessoas não querem a verdade.
Elas só querem a versão que melhor se adapta à sua necessidade de odiar. E odeiam. E estimulam que outros odeiem também.
Não sei como você tem sobrevivido às novas versões de guerras. Eu estou a um passo de desistir. Proteja-se. Em proporções diferentes, é claro, mas você está sob a mira da mais assertiva armadilha que o Diabo criou: o mundo virtual.
Pe Fábio de Melo“
Fonte: scc10